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[escrito na última
prova de física dos formandos 2005]
Vejo o rosto de cada um
Perdidos em lembranças
que queriam esquecer
Lembrando de tristezas
e amargores
De doenças e de dores
De dúvidas e temores
De ódios e amores
De espinhos e de flores
De perdas e valores
Que os fizeram ser o
que são.
Vejo sorrisos e faces
acabrunhadas
Vejo pessoas eretas e
encurvadas
Vejo faces que escondem
a dor
O temor, o tremor.
Vejo olhares perdidos
no horizonte
Contemplando o capim
que se espalha ao longe
Buscam ver o futuro que
se esconde distante
Tentam lembrar do
passado que se perdeu
Em sorrisos
Em lágrimas
Em labores
Em fugazes descansos.
Vejo olhares furtivos
perdidos ao chão
Buscam encontrar o que
os olhos não podem ver
Anteveem a saudade que
vem de perder
O lugar que até aqui
os acolheu
Ou os prendeu...
Buscam na mente as
vozes e as cores
As sensações e os
odores
Os amigos e os feitores
Que o tempo se
encarregou de levar,
De esconder,
De esmagar,
Compactando pequeno no
profundo da lembrança.
Vejo alegrias emergindo
das canetas.
Vejo lábios se
mexendo, revendo o que a memória já trouxe às folhas.
Onde estarão suas
mentes?
Fechadas em quatro
paredes
Do prédio escolar,
Do dormitório?
Lembrança presa ao
chão quente da quadra,
No domingo à tarde
A chacota dos colegas
por um saque errado.
A zoeira no refeitório
por bandejas derrubadas.
A tristeza por haver
perdido uma namorada.
Vejo os olhares
perdidos no tempo
Turbilhão que se faz
na memória
Mãos na testa pra
prender a lembrança
Ou trazer à tona as
que já se perderam.
Vejo mãos no queixo e
olhares vazios
Vejo canetas na boca à
espera da imagem
Vejo crianças perdidas
nas lembranças que emergem
Vejo crianças adultas
que surgiram com o tempo.
Tempo amargo que me fez
ver...
Tempo amargo que me fez
sofrer...
Tempo sofrido que me
amargou...
Tempo perdido que me
envelheceu,
E me enterneceu,
Me transformou naquilo
que sou
Ou só me firmou no que
eu nunca quis.
Vejo faces de
preocupação
Vejo canetas furiosas a
correr pelo papel
Despejando lembranças
Reais ou imaginadas
Vistas ou pensadas
Alegrias e tristezas
que se perderam no tempo.
É o que vejo.
Vejo o que vejo.
Eles não olham para
mim
Só se perdem em
lembranças sem fim
E, quando tudo isso
acabar
Verão que não se
lembraram
De tudo que queriam
lembrar.
Vejo o que vejo.
É o que posso ver...
É o que posso ter...
É o que posso ser.
Mas nunca vou ser...
Você.
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