O VIGIA


2801071T

O vigia não fala,
não “ouve”,
não ‘vê”;
ele apenas observa
com um olhar profundo e sereno
medonho até
um olhar de dor e descrença
de amargura silente
de sombra e de sim
que parece um não
pois se prende ao chão
vez ou outra ao ver


o vigia não sente
se faz sempre ausente
mesmo quando presente
seu olhar de demente
o oculta das mentes
de todos os presentes
seu olhar perdido
em vastos lagos diluídos
leva pra longe o gemido
das dores que ele vê

o vigia não ama
e nem poderia
seu peito oco
só oculta a cor
da dor noite-e-dia
daquilo que sabe
daquilo que via
mas o vigia lembra...

o vigia é um maldito
figura sem boca
de olhos profundos
que cabem o mundo
tristonho e vazio
um mundo cinzento
em olhar macilento
que arrasta o tormento
de ver dia-a-dia

o vigia não teme
pois conhece o fim
ao ver o começo
que é sempre igual
ele não corre
pois não precisa
pois tudo já viu
já sabe o caminho
e sabe que a pressa
vai apenas tornar
mais curto o tempo
pra um singelo sofrer

o vigia te vê
e te conhece
se vê em ti
e se entristece
pois vê teu caminho
e sabe aonde vai
termina em dor
termina em ai
vê tua amargura
te olha
se vai...

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